Baila – Enampor

11 de Junho 2009 – 13º dia de viagem

Está calor. O ar é pesado. Saímos para a estrada já passava das 10h da manhã. O percurso hoje é curto, o dia é para passear pela região. Estamos na zona de Casamance, uma das mais bonitas do Senegal mas uma região atribulada por uma guerra que dura há mais de 30 anos. Até Bigorna foi rápido e pacífico, aproveitámos para pôr gasolina, bem precioso por estas bandas. O posto de abastecimento estava fechado mas atestavam as viaturas com bidões de 5 litros que vendiam caro. Aliás, acabei por não perceber qual o preço do combustível no sul do Senegal pois cada vez que metia gasolina o preço era diferente, ia aumentado à medida que rolávamos para sul.

Rumo a Zinguinchor, por estrada de asfalto, a paisagem verde e espessa acompanhou-nos, as aldeias alinhadas com muros feitos de troncos cortados, árvores carregadas de mangas que caem no chão de maduras e enchem o ar com um cheiro fantástico. A única nota diferente era a quantidade de soldados isolados que havia ao longo da estrada, de metralhadora ao ombro a vigiar a estrada. Não mandavam parar, alguns cumprimentavam, encontrava-se por vezes jipes cheios de soldados , o exército sentia-se presente.

À entrada de Zinguinchor tivemos de parar. Uma placa a assinalar a polícia, um carro descaracterizado, homens com colete fluorescente mas sem uniforme. O Ricardo Azevedo já lá estava parado a abrir os bolsos, a despejar as malas da moto. Um homem mandou-me parar, pediu o passaporte, começou a fazer perguntas. De onde vem, para onde vão, é um rali? O carro de apoio parou 3 minutos depois e logo a seguir apareceu o resto dos rapazes. Mandaram despejar os bolsos, abrir as malas que tinham sido arrumadas nessa manhã, até me pediram para levantar o banco da moto. Aquilo era estranho pois eles não estavam fardados, nada simpáticos, começei a pensar se não seriam polícias a fazer algum biscate de sacar uns trocos a turistas medrosos. Mas os Tugas estavam calmos, mostraram tudo, as roupas sujas, os sacos de medicamentos, a lâmina da barba que não era utilizada há séculos. Acabaram por desistir.

A seguir à cidade o Tour Leader encontrou um restaurante com ar decente para almoçar que tinha um menu com um prato de crocodilo. Durante a Viagem os almoços têm sido quase à hora do lanche, ainda bem que trago sempre comigo os restos do pequeno-almoço para trincar quando paro para tirar fotos. Depois a estrada de terra até à aldeia de Enampor foi muito rápida e chegámos a meio da tarde.

Enampor é um dos locais indígenas para turistas onde ainda há as casas tradicionais da região, o “Empluvium”, uma casa redonda com um pátio central, organizada em vários quartos onde vivia cada família. A construção quase fechada possibilitava a defesa contra os animais selvagens, a abertura central permite a respiração da casa e a iluminação. Os rapazes estavam com a adrenalina toda e ainda foram dar um pulinho até Cap Skirring. Eu fiquei à conversa com os locais a perguntar sobre os hábitos da região. Contaram-me sobre a organização da aldeia, também ela comunitária, contaram-me sobre a vida actual e que a falta de chuva tem tirado trabalho ao povo pois não podem cultivar. Descobri uma coisa interessante – actualmente há cada vez menos homens com mais de uma mulher pois com a escassez de trabalho não lhes é possível sustentar várias mulheres e filhos. Por isso agora os homens só têm uma mulher.

O pôr-do-sol apanhou-me sentada a observar a azáfama da aldeia e a pensar sobre a diferença abismal entre as cidades e o interior. No campo as crianças brincam alegremente, aproximam-se de nós e sorriem. Na estrada vêem-se filinhas de crianças que vêm da escola e cartazes a incentivar a ida à escola “Je veux aller à l’ecóle et reussir”. Por outro lado nas cidades as crianças têm o olhar mortiço, semblante triste, aproximam-se de mão esticada a pedir.

Percurso: 220 km

Total time: 5:30 horas




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