Nouakchott

5 de Junho 2009 – 7º dia de Viagem

Dia de descanso
Moeda: Ouguiya (1/350)

À entrada de Nouakchott passa-se por dois controlos policiais que nos pediram as “fiches”, talvez por estarmos em época de eleições eles sejam mais rigorosos. Um dos polícias pediu se tínhamos “calmant” e apontava para a cabeça. Dei-lhe duas pastilhas de paracetamol e o homem ficou todo contente e já não revistou a carrinha.

Nouakchott é uma cidade recente, com cerca de 40 anos, por onde se chegava por uma pista difícil e que progrediu com a construção da estrada asfaltada. Vêem-se acampamentos nómadas à entrada da cidade e vendas de leite de camelo. Toda a cidade é multicolorida, desde as construções aos trajes das pessoas. Há movimento de carros, uns a cair de podres, outros modernos e também carroças de burritos. As construções são térreas, algumas com terraços e todas com aspecto inacabado.

Hoje foi dia de descanso. Ontem ao jantar, na reunião diária de planeamento e briefing ainda ponderámos continuar até St Louis e parar lá mas decidimos que já era tempo de descansar, ver o estado das motos e dormir. Estamos no Albergue Sahara, um dos locais de encontro de viajantes, propriedade de um casal, a Isabel uma portuguesa casada com um francês e que se apaixonou pelo deserto e ficou por aqui. De uma simpatia contagiante estivemos horas à conversa a ouvi-la contar histórias e experiências do deserto e dos costumes do país. Disponibilizou-se para nos acompanhar numa visita à cidade.

De manhã foi um luxo, só acordámos às 9 horas. O mesmo pequeno-almoço se sempre (o costume por estas bandas que é pão, doce ou manteiga e café) e fomos à procura de táxi. Em Nouakchott não se vêem muitos táxis identificados mas todos os carros são táxis, ou seja, se um carro se aproximar e apitar, é táxi. O preço tem de ser negociado e aqueles custaram-nos 300 ouguiyas (menos de 1€) cada para nos levarem ao mercado “capital”, um mercado típico e fascinante. A viagem até lá foi surreal. As ruas da cidade são largas, só as principais estão asfaltadas e não há passeios nem tão pouco passadeiras. Todos conduzem rapidamente e por todas as vias disponíveis, se está o semáforo vermelho e houver espaço, passa-se por detrás dele, se estiver fila de trânsito, vai-se pela berma, se houver lombas na estrada vai-se pela berma, se a fila de trânsito também incluir a berma, vai-se pelo separador central. Fácil e vertiginoso. Os carros são de todas as idades, desde as grandes máquinas recentes, com preferência para os Mercedes, até aos mais velhos e descascados. Mas todos andam esmurrados dos lados, da frente e por trás, cheios de ferrugem, alguns são mesmo autênticas carcaças andantes.

Nestes países as pessoas não gostam de ser fotografadas e os poucos que o consentem pedem dinheiro. Na Mauritânia é mesmo proibido andar por andar por estes locais a tirar fotos, só com uma licença. Eu não queria perder aquelas imagens, então andava com a máquina escondida na mão, de braço descaído a tirar fotos sorrateiramente. As primeiras saíram bem tortas mas depois consegui corrigir a posição do braço.

O mercado é incrivelmente colorido, vende-se de tudo desde cartões de telefone, artigos importados e produtos de artesanato. Estivemos por lá toda a manhã a deambular pelas bancas. Aqui a negociação é difícil, muito diferente de Marrocos.

De tarde estivemos pelo Albergue, a dormir, a arrumar a carrinha, a ver as motos. Ao entardecer fomos até ao porto de pesca. Apareceu o primeiro táxi, negociamos o preço e ficamos à espera que aparecesse outro táxi. Como demorava decidimos entrar todos naquele e partimos rumo ao porto, o condutor a rir e nós ensardinhados íamos a registar fotograficamente a situação, conforme podíamos pois o espaço era pouco, a única forma de ficarmos todos na fotografia era tentar um ângulo de fora da janela.

O porto de pesca é surreal, situado em cima da praia, o peixe sai dos barcos direito às bancas da praça ou às carretas dos vendedores ambulantes. Aquela hora ainda há muita gente, ainda se negoceia e ainda chegam barcos de pesca, compridos, feitos de madeira com desenhos coloridos que são tirados do mar à força de braços e ficam na praia todos alinhados.

Passeamos pela praia, deambulamos por entre as bancas a observar o trabalho de amanhar o peixe, alguns deles tão grandes que ocupavam várias bancas. Como de costume, lá ia eu a tirar fotografias sorrateiramente.

À saída do porto há várias lojas e procuramos um triângulo para a carrinha pois a Isabel avisou-nos que no Senegal é obrigatório ter dois. Sem sucesso caminhámos para a estrada à procura de um táxi e logo que cruzámos o portão veio um homem oferecer um táxi. Perguntámos o preço e ele fazia 1.000 ouguiyas para todos. Recusámos, era muito caro, tínhamos pago 300 à vinda. Ele não desistiu e veio atrás de nós. Mais uma negociata e fez o preço de 400. Lá nos encavalitamos de novo dentro do táxi e rumo ao albergue. Pelo caminho, em conversa, soubemos que era senegalês, falámos sobre o Senegal e o Azevedo decidiu perguntar se ele sabia onde comprar um triângulo. Era do outro lado da cidade a única loja que estaria aberta. Iniciou-se então outra negociação de preço para nos levar até lá e conversa puxa conversa, acabámos a comprar o triângulo do táxi, a preço reduzido pois era tão velho e esmurrado quanto o carro. Já à porta do albergue perguntámos se ele nos vinha buscar para nos levar a jantar. E pronto, transfer tratado, lá fizemos mais um amigo que à hora combinada estava à nossa espera.

Jantámos num restaurante ao lado de um drive-in africano, uma casa de sandes e hamburgers onde os carros paravam à porta, apitavam e saíam os empregados a correr apontar o pedido. Amanhã entramos no Senegal, temos apenas 300 km para fazer mas uma fronteira que é das mais difíceis da nossa Viagem.





1 comentário:

  1. É por estas e por outras que a Africa me encanta, estou-me a referir ao episódio do triângulo. Um mimo!

    Força rapaziada, aproveitem bem, que está quase a terminar.

    Bj e Abraços,
    Manuel Arez

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