4 de Junho 2009 – 6º dia de Viagem
Percurso: 511 km
Moving time: 6:10h
Total time:7 horas
Temperatura - 40 graus
Saímos de manhã cedo para passear até Cap Blanc, o farol do porto da cidade que é controlado por militares, com um museu sobre as focas-monge, espécie em extinção. Uma das poucas colónias ainda existentes costuma habitar nas praias junto ao farol e para lá fomos por uma pista de terra e pedra e areia com vinte quilómetros. Claro que cai de novo. A já conhecida dança do guiador aconteceu de novo e tumba, chão outra vez.
Afinal as focas só estão na praia de manhã cedo, pela fresquinha, quando chegámos já só vimos a falésia, o mar imenso e uma carcaça de barco encalhada na praia. Partimos para Sul, já perto da uma da tarde. Fizemos de novo os 40 km até ao cruzamento da estrada principal que nos vai levar a Nouakchott. Hoje o vento sopra forte, as motos andam de lado. Vamos sempre junto à linha de comboio, o maior comboio do mundo que trás o minério do interior até ao porto. Entrámos para o interior e uns km à frente paragem para uma refeição ligeira. Levamos mantimentos pois nesta região não há nada onde comer, não há sombras, só areia. Após meia hora ao sol, partimos. O próximo ponto de encontro era a 250 km, a meio caminho e o único posto de abastecimento entre as duas cidades. O vento continuou de lado por muito tempo até que a estrada mudou de direcção e começámos a apanhar com o vento pelas costas. Melhor, era mais fácil.
A camada superficial do deserto move-se ao ritmo do vento. Uma película fina de areia está em movimento permanente, invade a estrada, faz ondas contínuas, parecem milhares de cobras a serpentear no asfalto, empurradas pelo vento, atravessam a estrada.
O calor é sufocante, tudo arde, escalda, a paisagem é amarela mas a visão é vermelha de inferno. Não há nada, apenas areia, uns tufos de vegetação seca, ao longe algumas árvores ressequidas que teimam em resistir. A estrada é uma linha preta, fininha, a direito que acaba no infinito. Abrir a viseira é perigoso, o ar abrasador entra furiosamente e queima a pele.
A linha do horizonte é um espelho, um lago branco e brilhante, com árvores e construções. Apetece andar até lá, talvez haja gente, fresco, paz naquele inferno. Mas não é real, à medida que avanço tudo aquilo se desfaz e avança para mais longe, só fica a areia infindável. Só pensava nas famosas miragens, a ilusão de óptica do deserto. Não sei se todas as pessoas vêem as mesmas coisas, será que o deserto nos mostra os desejos? Se sim, o que queremos está longe, inalcançável. E só resta a estrada que não acaba, um caminho difícil, quente e solitário.
A 80 km de Nouakchott as minhas forças esgotaram. Ainda andei 30 km a lutar contra a tontura, abria a viseira, comia areia, fechava, levantava-me e sentava-me na moto. A tontura continuou. Estava com medo de parar ali, no meio do nada, areia e vento.
Finalmente vi ao fundo um posto de polícia, parei, desliguei a moto e cai no chão. Baixei a cabeça a ver se não desmaiava ali no nada, com três polícias de turbante a olhar para mim espantados. Logo a seguir apareceu o Ricardo Azevedo e disse-lhe que já não dava. Esgotei. Esperámos pelo Enrique que apareceu 5 minutos depois. Eles desmontaram os espelhos e o vidro para que a moto entrasse na carrinha Estava nas últimas, completamente alagada em suor, debaixo dos 40 graus, um sol implacável e a areia a invadir tudo. Em meia hora bebi 1,5 litros de água. Entrei na carrinha meia tonta e vim até Nouakchott quase adormecida.
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Percurso: 511 km
Moving time: 6:10h
Total time:7 horas
Temperatura - 40 graus
Saímos de manhã cedo para passear até Cap Blanc, o farol do porto da cidade que é controlado por militares, com um museu sobre as focas-monge, espécie em extinção. Uma das poucas colónias ainda existentes costuma habitar nas praias junto ao farol e para lá fomos por uma pista de terra e pedra e areia com vinte quilómetros. Claro que cai de novo. A já conhecida dança do guiador aconteceu de novo e tumba, chão outra vez.
Afinal as focas só estão na praia de manhã cedo, pela fresquinha, quando chegámos já só vimos a falésia, o mar imenso e uma carcaça de barco encalhada na praia. Partimos para Sul, já perto da uma da tarde. Fizemos de novo os 40 km até ao cruzamento da estrada principal que nos vai levar a Nouakchott. Hoje o vento sopra forte, as motos andam de lado. Vamos sempre junto à linha de comboio, o maior comboio do mundo que trás o minério do interior até ao porto. Entrámos para o interior e uns km à frente paragem para uma refeição ligeira. Levamos mantimentos pois nesta região não há nada onde comer, não há sombras, só areia. Após meia hora ao sol, partimos. O próximo ponto de encontro era a 250 km, a meio caminho e o único posto de abastecimento entre as duas cidades. O vento continuou de lado por muito tempo até que a estrada mudou de direcção e começámos a apanhar com o vento pelas costas. Melhor, era mais fácil.
A camada superficial do deserto move-se ao ritmo do vento. Uma película fina de areia está em movimento permanente, invade a estrada, faz ondas contínuas, parecem milhares de cobras a serpentear no asfalto, empurradas pelo vento, atravessam a estrada.
O calor é sufocante, tudo arde, escalda, a paisagem é amarela mas a visão é vermelha de inferno. Não há nada, apenas areia, uns tufos de vegetação seca, ao longe algumas árvores ressequidas que teimam em resistir. A estrada é uma linha preta, fininha, a direito que acaba no infinito. Abrir a viseira é perigoso, o ar abrasador entra furiosamente e queima a pele.
A linha do horizonte é um espelho, um lago branco e brilhante, com árvores e construções. Apetece andar até lá, talvez haja gente, fresco, paz naquele inferno. Mas não é real, à medida que avanço tudo aquilo se desfaz e avança para mais longe, só fica a areia infindável. Só pensava nas famosas miragens, a ilusão de óptica do deserto. Não sei se todas as pessoas vêem as mesmas coisas, será que o deserto nos mostra os desejos? Se sim, o que queremos está longe, inalcançável. E só resta a estrada que não acaba, um caminho difícil, quente e solitário.
A 80 km de Nouakchott as minhas forças esgotaram. Ainda andei 30 km a lutar contra a tontura, abria a viseira, comia areia, fechava, levantava-me e sentava-me na moto. A tontura continuou. Estava com medo de parar ali, no meio do nada, areia e vento.
Finalmente vi ao fundo um posto de polícia, parei, desliguei a moto e cai no chão. Baixei a cabeça a ver se não desmaiava ali no nada, com três polícias de turbante a olhar para mim espantados. Logo a seguir apareceu o Ricardo Azevedo e disse-lhe que já não dava. Esgotei. Esperámos pelo Enrique que apareceu 5 minutos depois. Eles desmontaram os espelhos e o vidro para que a moto entrasse na carrinha Estava nas últimas, completamente alagada em suor, debaixo dos 40 graus, um sol implacável e a areia a invadir tudo. Em meia hora bebi 1,5 litros de água. Entrei na carrinha meia tonta e vim até Nouakchott quase adormecida.
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Deliciosas linhas, Paula. Essas metáforas...
ResponderEliminarEspero que recuperes para o dia de amanhã.
Leva-nos contigo, anda.
Beijokas
Joao Calado
Kotinha no seu melhor. A prosa, o fisico e a mente levados aos limites... Mantem-te hidratada e sempre corajosa, repoe os sais e tenta encontrar uma forma de viajar um pouco mais fresca, se tal for possivel. E obrigado por, depois de um dia destes, partilhares connosco essa aventura...
ResponderEliminarAbracos para todo o pessoal e beijos meus desde Italia.
Ze' Paulo.
Linda, espero que recuperes rápido, mas tem muito cuidado com a desidratação por favor.
ResponderEliminarTambém parto hoje em viajem, mas vou tentar acompanhar os teus relatos onde apanhar net.
beijocas
Amiga Paula
ResponderEliminarEscrever esta fascinante crónica de viagem, depois das vicissitudes do percurso, nomeadamente o calor e a desidratação, é, já por si, uma vitória!
Repetindo o que tem sido dito, sem diminuir a proteção passiva, tenta ir o mais fresca possível, bebe muita água, com sumos naturais, bastante diluídos, e faz uma alimentação muito leve, evitando a carne e alimentos elaborados.
Conduz sem tensão, pois a contração muscular produz muito calor.
Lembra-te que estamos sempre ao teu lado, tornando esses desertos caminhos de ninguém, em silenciosos engarrafamentos de amizade!
Boa viagem!
ó miga... toca a levantar essa moral, força estamos todos a torcer por ti! que não te faltem as forças equando te faltarem lembra-te dos desgraçados que morrem de inveja por não estar aí a curtir contigo! bjs! e boa sorte pelas longas rectas......
ResponderEliminarDepois de um dia como este e ainda escreves assim, está tudo bem! não te deixes ir ao limite, impôe a ti propria um horario para comer e bebe sempre mesmo sem sede.
ResponderEliminarforça amiga estamos contigo!! AC
O que te aconteceu foi falta de hidrataçao e de sais minerais ... tal como alguns anteriores comentadores já referiram há manter constantemente a hidrataçao e a alimentaçao para evitar esses colapsos!
ResponderEliminarMas já estás boa e amanhã voltas ao "serviço" estou certo!
Quanto à crónica, é tua, o que significa a qualidade de sempre.
Beijinhos e saudades.
João
Ler as tuas crónicas só não preenche o meu sentido olfactivo....de resto até parece que estou aí ao teu lado. A parte fisica resolve-se com umas boas "litradas" de água (bebida muito regularmente) e buéréré de fruta (da de casca!). Mantem a mente em cima e a viagem já está para lá de meio. Admiro a tua capacidade de ainda escreveres estas crónicas que nos enchem o coração de alegria. Força miúda. Beijocas.
ResponderEliminarViva Paula!
ResponderEliminarRepito o que disseram alguns dos que, como eu, estão a acompanhar todas as palavras, emoções, sabores e cheiros que escreves. Mantém-te o mais fresca possível e bebe MUITA água, mesmo quando não tiveres sede. 1,5 litros que dizes não é nada considerando a viagem que estás a fazer e o local onde as estás a fazer. Para todos os efeitos, estás a atravessar um DESERTO! Bebe bem mais que isso.
Uma beijoca e segue em frente! Estamos contigo!
Paulo Mafra
Paula,
ResponderEliminarsem palavras ... as tuas crónicas fazem-nos viver um pouco tudo o que sentes, vês e saboreias! Força e segue as dicas dos teus amigos, conhecedores do que se deve ou tem de fazer em aventuras destas!!
bjs
patrícia Matos
Quem se propôe a uma viagem destas, mesmo que inconscientemente , procura testar os seus limites e agora já sabes como é... Concerteza que saíste mais forte desta experiência e as próximas etapas já incorporarão esta mais valia.
ResponderEliminarA crónica está fantástica. Parabéns.
Não te desejo força porque essa já a adquiriste ...